Vestigios do Brasil – uma série documental em 12 episódios

Um documento de sete mil páginas revela a história da expansão territorial brasileira do século XX através da tomada dos territórios indígenas. A redescoberta do até então desaparecido Relatório Figueiredo em 2012 reacende essa memória. As espantosas denúncias citadas no processo e que na época foram veiculadas na imprensa nacional e internacional aparentemente caíram no esquecimento. O que aconteceu com esses personagens? Quem sobreviveu? Qual a situação da etnia hoje? Que problemas enfrentam?

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Sinopses dos episódios

Primeiro episódio – Os Cinta Larga – Em 1963 o Brasil foi, pela primeira vez, denunciado internacionalmente por genocídio. Tratava-se do que ficou conhecido como o Massacre do Paralelo Onze, no Mato Grosso, onde 3.500 índios da etnia Cinta Larga foram mortos. Por ordem dos seringueiros, aldeias inteiras foram metralhadas e bombas e dinamites atiradas de aviões. Os depoimentos e denúncias do caso serão utilizados para remontar a história da etnia até a situação atual.

Segundo episódio – Os Bororo – A partir do caso da índia Rosa Bororo, no Mato Grosso, dada como pagamento por um funcionário do SPI em troca de um fogão, este episódio irá tratar da exploração das meninas e mulheres índias por fazendeiros e funcionários do SPI. Mulheres obrigadas a trabalhar no dia seguinte após o parto, crianças afastadas de suas mães e sequestradas das escolas para serem entregues a fazendeiros em regime de trabalho escravo.  Os depoimentos e denúncias do caso serão utilizados para remontar a história da etnia até a situação atual.

Terceiro episódio – Os Umutina – O caso do menino Lalico, que por vender 5kg de poia-ipecacunha por conta própria para ajudar a mãe, foi retirado de casa, espancado e torturado por um funcionário do SPI, será o fio condutor para contar a história dos Umutina, no Mato Grosso. A quase exterminação desse povo, através da exploração de suas terras, do trabalho escravo e dos abusos de seus recursos naturais por parte do SPI serão retratados neste episódio, que irá buscar junto ao seus descendentes as consequências desse processo para a etnia.

Quarto episódio - Os Munduruku – Uma das etnias mais numerosas do Brasil, os Munduruku, residentes às margens do Rio Tapajós, no Pará, viveram os diferentes ciclos de exploração da floresta e do rio pelo homem branco. Este episódio terá como fio condutor a ação de uma seringueira enquanto agente civilizadora do povo Munduruku em busca de transforma-los em operários da borracha. As entrevistas realizadas com os descendentes irão remontar os diferentes ciclos industriais em que este povo resistiu até os dias de hoje em que enfrentam a construção de uma hidroelétrica em seu território.

Quinto episódio – Os Canela – Após mais de 150 anos de convivência pacífica com o restante da população do Maranhão, os Canela foram liquidados e suas terras tomadas no final da década de 20 por fazendeiros locais. O massacre foi amplamente divulgado aos órgãos responsáveis e na mídia local. Os 400 sobreviventes Canela encaminhados para um posto indígena vizinho, sem suas terras. Cinquenta anos depois a luta pela e permanece, assim como a crueldade contra o povo indígena. Este episódio vai revisitar a história dos Canela para compreender o conflito e as mortes cruéis dos indígenas nessas terras durante os últimos anos.

Sexto episódio – Os Pacaas Novos – O contato do Pacaas Novos com o homem branco no século XX, em Roraima, resultou na morte em massa deste povo por epidemias e doenças. Este episódio irá refletir sobre a falta de assistência no processo de aproximação dos indígenas. Além de entrarem em contato com doenças infectocontagiosas das quais seus corpos não tinham defesa de combater, a falta de assistência do SPI e os maus tratos, como fome provocada pela exploração dos recursos naturais de suas terras, quase exterminaram os Pacaas Novos. Eles aguardam hoje a demarcação de suas terras.

Sétimo episódio – Os Kadiwéu – Presenteados pelo Imperador D. Pedro II com 1 milhão de hectares de terras após a Guerra do Paraguai, os Kadiwéu se tornaram os donos de uma das maiores reservas indígenas brasileiras. No entanto, vivem em uma pequena aldeia e lutam para reconquistar suas próprias terras, em esbulho há 30 anos, ocupadas ilegalmente por pecuaristas. O preconceito, o abuso de poder, as relações estabelecidas ali e visíveis nos depoimentos e denúncias do caso serão utilizados para remontar a história da etnia até a situação atual.

Oitavo episódio – Os Guarani-Kaiowá – O esbulho das terras dos Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, é um retrato da questão indígena do estado. Entre arrendamentos ilegais, venda ilegítima de terras demarcadas na década de 60 e assassinatos de lideranças indígenas, essa etnia representa a batalha indígena contra o poder agropecuário. Um caso recente de massacre em terra indígena Guarani-Kaiowá será apresentado paralelamente às informações de esbulho levantadas por Jáder Figueiredo. Os depoimentos e denúncias do caso serão utilizados para remontar a história da etnia até a situação atual.

Nono episódio – Os Pataxó – A contaminação criminosa dos índios Pataxó, na Bahia, por meio do vírus da varíola é uma das denúncias mais sérias dos processos investigados pelo Relatório contra a etnia. A reintegração das terras em esbulho, ocupadas por pecuaristas e descendentes de políticos desde a década de 30, já está há mais de 30 anos na Justiça. A busca pelos antigos, neste episódio, na pequena reserva localizada no sul da Bahia pretende trabalhar com essa memória e desvendar o processo de extinção da etnia.

Décimo episódio – Os Guarani - O povo Guarani é o conhecido como o Grande Povo, composto por diferentes povos nômades. Este episódio vai mostrar o fluxo de migração da etnia e também a destruição de sua identidade ao longo dos anos através de algumas histórias como a do índio Manuelzinho, enviado para diferentes postos indígenas pelo país. Os depoimentos e denúncias do caso serão utilizados para remontar a história da etnia até a situação atual.

Décimo primeiro episódio – Os Kaingang - A divisão – A rivalidade e a hierarquia dos povos Kaingang, localizados no Rio Grande do Sul, foi explorada durante o século XX por funcionários do SPI e fazendeiros para viabilizarem a expansão territorial no interior do país e explorar as terras indígenas. O processo relata os abusos e a falta de assistência em relação aos índios, além de apresentar os métodos de tortura e guerra da etnia, que depois foram usados contra eles. Lideranças indígenas atuais, entrevistadas para o documentário, defendem publicamente novas estratégias de luta e questionam as históricas cisões internas.

Décimo segundo episódio – Prisões e migrações: a perda de identidade - O mapa dos postos indígenas no território Kaingang mostra o processo de genocídio em prol do “progresso nacional”. Neste episódio, tal processo “civilizatório” será abordado através dos dados trazidos pelo relatório sobre o sistema carcerário indígena na política conduzida pelo SPI. Nesse episódio vamos abordar as migrações através das prisões criadas pelo SPI.

A partir do Relatório Figueiredo e dos fatos narrados nesse documento que foi feito em 1967/68, essa série quer trabalhar com a memória. No decorrer do trabalho de desenvolvimento do roteiro, descobrimos também os impactantes depoimentos de indígenas, funcionários do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) e mesmo de participantes da violência descritas nos autos de processo expostos. Nesses depoimentos, pode-se perceber a banalização da violência, os preconceitos com os indígenas, a visão que a terra indígena deve ser explorada nos moldes da sociedade branca, e com uma força muito grande. Como a intenção não é fazer um trabalho sociológico, e consideramos que hoje a fronteira entre documentário e ficção está cada vez menos nítida, definimos que atores podem “representar” esses depoimentos, como realizamos no vídeo-demo em anexo. Além dos depoimentos recolhidos, vamos trabalhar com toda a pesquisa realizada, que aliada ao largo material de arquivo encontrado servirá como base teórica e narrativa de cada episódio.