Jornalista chega a Brasília para assumir, durante período eleitoral, a chefia da sucursal da principal rede de TV do país. O antigo diretor está indo chefiar a campanha de um jovem candidato a governador, apoiado por políticos conservadores, que utiliza um discurso entre o populista e o moderno. Metade dos profissionais está se retirando, sob as mais variadas desculpas, para ganhar salários milionários nos mais diferentes estados (Rondônia, Pará, etc.), fazendo campanha política para todos os tipos de candidatos, sem qualquer critério, político ou ético. Esses profissionais vão surgir, ao longo de todo o filme, em depoimentos nas ilhas de edição. Os mais variados discursos - desde a crise econômica até a falta de perspectiva desse fim de século - justificam suas opções.
Por meio destes discursos, o filme mostra o desenvolvimento das campanhas e os conflitos vividos por estes personagens. A jornalista, por sua vez, está em crise diante do que se passa em sua profissão. Na redação, destaca-se o novo chefe de reportagem, um rapaz eficiente, de outra geração, preocupado acima de tudo com sua carreira na televisão. A jornalista encontra um deputado ex-militante de esquerda, amor de adolescente, casado, com uma vida tradicional, com quem volta a estabelecer uma relação. Forma-se, então, um triângulo amoroso envolvendo estes três personagens, onde, além das diferenças de idade e de formação, questões como o poder da mídia e o papel do jornalista no mundo de hoje vão colocá-los em cheque.
Todos os personagens vão se deparar, durante o filme, com situações ambíguas e eticamente discutíveis. Não existe mais preto e branco e todos se vêem diante dessa estranha realidade cinza. O deputado, para poder emplacar seu partido, faz frente em outros estados com candidatos à direita. A jornalista vê seu trabalho manipulado pela direção da emissora. E a própria campanha em Brasília vai num crescendo de apelações e utilizações pessoais. A reação a estas manipulações e a todas estas contingências, entremeada por reencontros e desencontros afetivos, é a história deste filme.
Nota da diretora
Vivemos num mundo onde à razão cínica não se contrapõe mais a razão utópica. O filme "Doces Poderes" coloca a olho nu esta questão, de vários pontos de vista: o da mídia, o do poder político e a ótica individual dos profissionais de comunicação. Sua importância está em mostrar como esta questão se dá concretamente no Brasil, um país onde uma democracia recente convive com um capitalismo perverso. Desnudar a forma como o poder político se estabelece, mostrando todas as forças em jogo numa eleição é de extrema importância para que se possa apreender o país em que vivemos. As altas verbas destinadas às campanhas eleitorais tornaram natural que publicitários, redatores, repórteres, cinegrafistas e diretores aderissem a esse mercado sem que houvesse qualquer critério, a não ser o financeiro, para a escolha dos candidatos aos quais iriam servir enquanto profissionais. Premidos na luta pela sobrevivência, perdidos entre os sonhos que acabaram, a questão ética parece ter se tornado algo do passado.A esquizofrenia e a selvageria destas relações estão à mostra neste filme. Para o espectador, esta é uma oportunidade de se emocionar, pensar e refletir sobre a realidade brasileira, sem maniqueísmos. Podres poderes ou doces poderes? Neste confuso fim de século, o filme pergunta: como sobreviver a todas estas contradições, se não existe mais um mito no fim do tunel? "Doces Poderes" se insere na linha dos filmes que pretendem restabelecer uma relação com o espectador brasileiro, respeitando-o como alguém que pode e deve ser crítico. E apesar de desnudar relações de poder existentes no nosso país, trata de questões que atingem o mundo todo: a monetarização das relações humanas, o novo papel da mídia, a crise da ética.
Críticas
"Uma brilhante análise das relações entre poder, sexo e política no Brasil" (Dar Tages Spiegel - Alemanha)
"Uma direção criativa" (Variety - USA)
"Divertido e irônico" (Village Voice - USA)
"Bom humor, sagacidade e coragem" (O Estado de São Paulo -Brasil )
"Humor com amargo gosto de tragicomédia" (Jornal do Brasil - Brasil)
"Boa forma do cinema nacional" (Folha de SP - Brasil )
"Oportuno e competente" (Isto é - Brasil)
"Um filme que prende o espectador" (Revista Veja - Brasil)
Seleção internacional
Sundance Film Festival (USA, 1997
Festival de Berlim - Film Forum (Alemanha, 1997
New England Latin American Film Festival (USA, 1997)
Washington International Film Festival (USA, 1997)
Philadelphia World Cinema (USA - 1997)
London Latin American Film Festival (London, 1997)
Festival de Mar del Plata (Argentina, 1997)
Festival de Havana (Cuba, 1997)
Chicago Latino Film Festival (USA, 1998)
Festival de Mulheres (Turim - Itália, - 1998)
Cruzando Fronteras (Washington - USA, 1998)
Los Angeles Latino Film Festival (USA, 1998)
Festival de Serra da Estrela (Portugal, 1998)
San Diego Latino Film Festival (USA, 1999)
Elenco
Marisa Orth
Antônio Fagundes,
Tuca Andrada
Sérgio Mamberti
Otávio Augusto
José de Abreu
Cláudia Lira
Luiz Antônio Pilar
Vicente Barcelos
Participação especial: Amir Hadad, Catarina Abdala, Cristina Aché, Chico Diaz, Elias Andreato, Jonas Block, Rodrigo Pena, Stepan Necerssian e Zezé Polessa.
Ator convidado : Luis Melo
Créditos
Produção : Taiga Filmes e Vídeo
Direção e roteiro: Lúcia Murat
Direção de fotografia: Antônio Luiz Mendes
Montagem: César Migliorin e Vera Freire
Música: Sacha Amback com Adriana Calcanhoto
Cenografia: Sergio Menezes
Figurino: Inês Salgado
Som direto: Heron Alencar / Chico Bororo
Mixagem: Roberto Leite.