A história de três irmãos, com a linha dramática dada pela história do caçula, que vai para Londres em 1969, enviado pela família para não entrar na luta armada contra a ditadura no Brasil, seguindo os passos da irmã. Durante os nove anos em que viaja pelo mundo, ele escreve cartas. Contrapondo-se à entrevista e às cartas, os comentários em off da irmã, presa política que virou cineasta e viaja pelo mundo, num processo inverso ao do irmão que, de viajante livre, foi obrigado a enfrentar diversos problemas. Um documentário que trabalha sobre a memória, não só pela forma como é feita a investigação, mas também sobre o motivo do filme: a morte do terceiro irmão.
Argumento
História de três irmãos que chegaram à adolescência no final dos anos 60. É uma visão pessoal de uma época que viveu radicalmente a política, a luta armada e as drogas. A linha dramática do documentário vai ser dada pela história do irmão mais novo, Heitor, que vai para Londres em 1969, mandado pela família preocupada para que ele não entrasse na luta armada contra a ditadura no Brasil, seguindo os passos da irmã. Ironicamente, lá ele entra de cabeça na Swinging London e, como a juventude européia e americana da época experimenta as drogas e vive o encanto místico da Índia. Isso significou uma vida cheia de experiências viscerais, que vão desde uma prisão na Holanda, nos anos 70 por tráfico de drogas, até ter feito duas vezes a volta ao mundo, viajando como hippie, para finalmente ser internado numa casa de saúde na Índia pela Embaixada Brasileira. Nesse momento, final de 1978, a Embaixada americana tinha mais ou menos 80 rapazes na mesma situação, perdidos e enlouquecidos (segundo os padrões ocidentais) pelo mergulho de cabeça numa cultura completamente distinta.
O Embaixador do Brasil decide então avisar à família e a mãe dos irmãos viaja a Nova Dheli para trazê-lo de volta. Durante os próximos anos, Heitor resiste aos tratamentos tradicionais . Finalmente, acompanhado de perto pelos dois irmãos, passa a se tratar regularmente. Durante os 9 anos em que viaja pelo mundo, de 1969 até 1978, Heitor escreve regularmente para a família. São centenas de cartas em que suas impressões retratam o universo hippie da época e países então desconhecidos, como as ilhas dos Mares do Sul, Indonésia, Tailândia, Afeganistão entre muitos outros.
O documentário apresenta cronologicamente as mais significativas dessas cartas, entrecortado por entrevistas realizada com Heitor hoje na qual conta aquilo que não podia contar nas cartas: o excesso de drogas, as prisões, tudo aquilo que era ilegal e incapaz de ser aceito pela família de classe média para a qual escrevia. Nesse sentido, o documentário é a realidade vivida por ele e aquilo que ele podia escrever. Ambos são reais, como se fossem duas camadas, a que a família podia absorver e a outra. Essas entrevistas com Heitor, posteriormente editadas no documentário, foram feitas durante cerca de um ano e meio, tendo como base as cartas que escrevera.
Em contraponto às entrevistas e às cartas, os comentários em off da irmã e diretora do documentário, que foi presa política durante a ditadura brasileira e depois se torna uma cineasta que viaja pelo mundo, quase num processo inverso ao vivido pelo irmão. Finalmente, a história do terceiro irmão, Miguel, que viveu e apoiou os outros dois em toda a sua vida, e transforma-se num importante cientista.
A proposta do documentário é então tratar de questões cruciais como a loucura, a política, o fundamentalismo a partir de vivências concretas, ressaltando a ironia de determinadas situações, como por exemplo a carta que Heitor escreve do Afeganistão em 1973 em que encantado fala de uma sociedade que lhe parecia o paraíso, longe do consumo, perto da natureza, destacando a hospitalidade daquelas pessoas.
Uma longa viagem retrata uma época e trabalha sobre a memória. Não somente pela forma como é feita a investigação, mas também sobre o que motivou Heitor a dar as entrevistas e a Lúcia a reunir as cartas que a mãe tinha juntado durante toda a sua vida. Miguel, o terceiro irmão, morreu. E a única coisa que eles conseguem fazer diante da perda é resgatar a memória da época em que viveram juntos.
Elenco
Heitor jovem: Caio Blat
Créditos
Roteiro, direção e produção: Lucia Murat
Direção de fotografia: Dudu Miranda
Fotografia adicional: Rodrigo Monte
Montagem: Mair Tavares
Som: José Moreau Louzeiro
Edição de som: Maria Muricy e Simone Petrillo
Mixagem: Roberto Leite
Trilha sonora: Lucas Marcier e Fabiano Krieger
Direção de produção: Tainá Prado
Pesquisa e primeiro assistente de direção: Leo Bittencourt
Edição, arte e concepção das projeções: Julia Murat
Direção de arte (cenário das cartas): Mônica Costa
Assistente de arte: Cedric Aveline
Figurino (Caio Blat): Inês Salgado
Assistente de figurino: Natalia Silveira
Câmera adicional e entrevistas Heitor: Leo Bittencourt
Câmera suplementar: Julia Murat e André Markwald
Operador de steady cam: Fabrício Tadeu
Finalização e pós-produção: Bernardo Varela
Estúdio de finalização: ComDomínio
Abertura e videografismo: Chapa Estúdio (Patricia Chueke e Phil)
Assistente de montagem: Marih Oliveira
Pesquisa em arquivo de imagens: Antônio Venâncio
Coordenadora de finalização: Luciana Motta
Assistente de produção: Tatiana Ostrower
Assistente de câmera: Tomás Camargo
Assistente de steady cam: Fabrício Jota
Assistente de som: Rômulo Hughes Drumond